sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A Hispanidade como Projeto de Poder - Flagelo do Ocidente

Há alguns anos postei, numa comunidade do orkut, da qual muitos que me lêem aqui faziam parte, que o ensino obrigatório do castelano (também conhecido vulgarmente como espanhol) nas escolas brasileiras era parte de um plano oculto de expansão da ideologia comunista no continente, através do projeto mor da hispanidade. À época, o governo brasileiro, já submisso a interesses estrangeiros, nem exigia a reciprocidade, ou seja, que os outros países do continente adotassem o ensino obrigatório da língua de Camões, baseado que estava (e continua) no surrado sofisma de que somos "o único país do continente que fala português". É um sofisma, ou seja, um argumento com aparência de verdade, apenas formal, com intento de validar uma mentira, já que tal assertiva dá a impressão de que somos minoria quase inexpressiva quando somos, de facto, metade de todo continente ou até mais, em território, população e economia. Pois bem, na altura chegaram mesmo a dizer que eu estava exagerando e coisa e tal...

Antes de desenvolver mais esse tema, faço a ressalva de que as palavras hispânia, assim como suas derivadas, "hispânico", "hispanidade" e demais podem incluir, no seu significado primevo, a Lusitânia. Entretanto, trabalho com o significado corrente e eminentemente cultural, forjado historicamente, que faz delas afeitas, quase que exclusivamente, nos dias de hoje, à Espanha. Não se trata de manipular os significados como fazem hoje os norte-americanos em relação às palavras "latino" e "hispânico", fruto do racismo e da ignorância, senão consagrar o uso corrente que, por valorização da identidade luso-brasileira, deixa, originalmente, a expressão hispânico para tudo o mais da península, menos Portugal. PORQUE NÃO QUEREMOS FAZER PARTE DA ESPANHA OU DA REPUBLICA BOLIVARIANA, E DIZEMOS ISSO DO ALTO DE NOSSA AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA.

É claro que nada tenho contra a língua de Cervantes e seria ridículo que tivesse. Entretanto, claro já estava (e está) que esse projeto tinha um carácter eminentemente político ideológico, não de integração cultural entre iguais, mas de uma submissão política, ideológica e cultural com vistas a formar a futura União das Repúblicas Socialistas Sul Americanas (bolivarianas), a tal "pátria grande" à qual Bergoglio aludiu recentemente, seguindo as orientações dos seus mestres da Teologia da Libertação (TL).

A TL é a tentativa impossível de conciliação do cristianismo com o marxismo e tem u`a marca indelével que é a da "HISPANIDAD". A hispanidade é um projeto de poder e de hegemonia cultural há muitos anos acalentado por herdeiros da tradição espanhola que jamais aceitaram o facto de que Portugal, no espaço europeu, e a América Portuguêsa, no Novo Mundo, não se submetessem aos seus ditames. Nesse sentido, sobrepõe-se mesmo à alguns (supostos) antagonismos político-ideológicos. Seus mentores iniciais não são os comunistas, que apenas seguiram, convenientemente, nessa esteira, mas os loyolistas, rebentos mais vetustos do humanismo e do racionalismo que levaram ao modernismo, iluminismo e liberalismo; loyolistas que disseminaram o ódido contra o Reino Unido e os EUA em suas instituições de ensino na Espanha e na América Hispânica. 

Os jesuítas são uma ordem basicamente castelana e jamais digeriram a derrota da invencível armada para os inglêses em 1588 e a derrota para os EUA na Guerra Hispano Americana de 1898. Bergoglio, mais particularmente, talvez não tenha digerido a surra que os militares argentinos, os mesmos que torturaram mulheres e crianças, levaram dos ingleses em 1982 nas Malvinas. Os inacianos surgiram para ser os campeões da contra-reforma mas incorporaram totalmente a ascese protestante e sua convicção imanentista. Em contraposição à ética (e estética) protestante, os loyolistas inventaram o pobrismo (a ser tratado num próximo texto), tão materialista e utilitário quanto o protestantismo. Tanto a TL quanto o comunismo sul americano são tributários de valores do liberalismo e dessa idéia de "pátria grande", para opor-se ao que eles chamam de bloco anglo-saxão, e agora, mais recentemente, de "império", fruto do modernismo como eles, mas seus vencedores na disputa pela hegemonia no mundo ocidental. A grande aposta da Igreja Católica (conciliar), hoje dominada pelos inacianos que, com a eleição de Bergoglio, chegaram finalmente ao centro do poder, é formar um outro bloco, para tentar evitar a consolidação e desenvolvimento do capitalismo na América Latina, formando no continente sua grande base de apoio junto, futuramente, à China, sua outra grande aposta. Com isso, estão abandonando os cristãos do Oriente Médio à sua própria sorte e calando diante do terrorismo islâmico, este último um aliado tácito dos governos comunistas latino americanos pelo simples facto de moverem guerra contra os EUA. É o anti americanismo de "babar na gravata", anti americanismo raivoso e recalcado. O Brasil, felizmente, teve um processo histórico diferente dos seus vizinhos hispânicos. A monarquia bragantina salvou-nos do caudilhismo tipicamente cucaracha. Outra diferença importante foi a expulsão dos jesuítas, que devemos creditar ao Marquês de Pombal que, embora sendo pedreiro livre, com essa atitude ajudou a retardar o processo revolucionário no Brasil, mesmo que os inacianos tenham voltado. O facto é que, por termos menos loyolistas na América Portuguêsa do que na América Hispânica, por ser a Companhia de Jesus essencialmente espanhola, conseguimos um pouco mais de proteção ante o mal maior que estava por vir. Talvez não consigamos resistir à corrupção trazida por esses celerados, mas temos mais condições de enfrentá-los.

Recentemente vi o discurso de um destacado dirigente do PT, em reunião na Venezuela, onde ele falava, de forma muito recalcada, do "império" (leia-se, "império americano" ou "estadunidense", como querem os bolivarianos). O recalque é tanto que nem o nome do país consegue dizer. É um dirigente desses oriundos da classe média urbana, aculturado e estrangeirado, que não sabe o que é o Brasil profundo e pouco sabe da nossa história. Nossas "otoridades" estão embarcando nessa esparrela por ódio ideológico e por total ignorância. 

Com efeito, há mais aversão, genuína, à cultura norte-americana entre conservadores e tradicionalistas do que entre comunistas. Pelo simples facto de que os conservadores e tradicionalistas são identitários, porque valorizam sua própria cultura e não porque odeiem o diferente. Porque sabem que nossa tradição cultural latina é muito mais rica que a base bárbara e pagã dos países anglo saxões e protestantes. A suposta aversão dos comunistas hispânicos ao tipo de sociedade que prosperou nos EUA é apenas aquela de quem não foi convidado para a festa, de quem tem seu antípoda como o seu obscuro objeto do desejo. É facto sabido que os comunistas latino americanos apreciam muito as compras no "grande irmão" do norte. Se 10 vezes lhes for dado escolher entre ir à Europa ou ir à Miami ou Nova Iorque, em nove escolherão Miami e Nova Iorque. São os que, no Brasil, conhecemos por "esquerda ballantines", "esquerda caviar" ou "esquerda playmobil", conforme a geração. Visitam a ilha prisão apenas uma vez na vida, para dizer em reuniões de convívio social onde jactam-se de sua "culpa cristã" (mesmo tendo abjurado há muito do catolicismo) e pavoneiam-se com seu orgulho de (pseudo) intelectuais comunistas.

Sucede que Portugal e Brasil nada têm a ver com esses recalques de nossos vizinhos. Portanto, essa tal hispanidade não nos toca, em hipótese alguma. Que arrebentem-se nessa aventura e parem de tentar impor suas frustrações ao mundo lusófono. Jamais falaremos castelano. FALAREMOS PORTUGUÊS SEMPRE, POR MAIS QUE TENHAMOS ESTRANGEIRADOS E ACULTURADOS DE TODOS OS TIPOS ENTRE NÓS. PERMANECEREMOS.

Para todos que reivindicam-se do conservadorismo e da tradição, mormente os católicos monárquicos (monarquistas) portuguêses e brasileiros, um alerta: Alguns sítios na internet, supostamente tradicionalistas, passaram recibo de que fazem, infelizmente, o jogo desse projeto da Hispanidad e que de tradicionalistas e monárquicos nada têm. São apenas liberais e modernistas, muito mal resolvidos política e culturalmente, que estão mergulhados de cabeça nesse projeto que reune o Bergoglio e os inacianos, mais os comunistas, incluindo o PODEMOS (neo comunista), alguns grupos miguelistas portuguêses, carlistas (Comunion Tradicionalista Carlista), Opus Dei (neo protestante) et caterva. Parece teoria da conspiração mas não é, e trago as provas. 

A Espanha está prestes a fragmentar-se, o que seria um desastre para seu projeto imperial, que estende-se, culturalmente, pelas Américas. Carlistas e Opus Dei, junto com os loyolistas, são adeptos dos mais entusiastas do liberalismo e da ideía do estado nacional que passa por cima de todas as identidades e que teve seu nefasto embrião no absolutismo régio, esse já uma distorção da monarquia tradicional. É compreensível que esses grupos de filiação espanhola atacassem o projeto independentista catalão. Afinal, não foi por acaso que a Espanha tenha sido uma presa do liberalismo antes de Portugal, exactamente pela força dos jesuítas. Mas o que não seria possível imaginar é que os portuguêses monárquicos fossem também contra a independência da Catalunya. E o motivo pelo qual o são, além de sua filiação ideológica afim, é o facto de que grupos miguelistas são ligados, por obediência, a grupos carlistas. 

A "prova dos nove" aconteceu recentemente. Os espanhóis, prestes a perder a Catalunya e com medo de retomar Gibraltar aos ingleses, resolveram partir para cima de Portugal querendo parte do nosso mar territorial. Sabem qual foi a repercussão disso em alguns sítios miguelistas? Nenhuma. Vi mais de uma postagem sobre a cobiça dos espanhóis em relação às Selvagens e ao nosso mar territorial em um sítio dito da lusofonia mantido por miguelistas. Nenhuma manifestação por parte deles. E não é por acaso que alguns desses mesmos miguelistas sejam fãs do também neo comunista Puttin e tenham, em suas ligações sugeridas, vários sítios fascistas, integralistas, integristas, carlistas e vários outros adeptos da união ibérica e do projeto da hispanidad. A esses somam-se os comunistas, em função do projeto específico na América Latina, e neo comunistas duguinistas, PORQUE AGUNS PROJETOS DE PODER TORNAM-SE IDEOLOGIAS POR CIMA DAS IDEOLOGIAS.

U`a máxima, para quem pretende entender o que é o pensamento tradicionalista, conservador, católico e monárquico luso brasileiro: qualquer grupo que dê loas à Espanha e tenha ligações com grupos fascistas ou comunistas, nada tem de português e tampouco de tradicionalista. E, muito mais que isso, QUALQUER GRUPO QUE APOIE QUALQUER PROJETO DE HEGEMONIA ESPANHOLA, LEVE O NOME DE IBERISTA, HISPANISTA OU O NOME QUE INVENTAREM PARA DESPISTAR, NADA TEM DE PORTUGUÊS E TAMPOUCO DE TRADICIONALISTA.

Esses modernistas e liberais, pseudo católicos, pseudo monárquicos e pseudo defensores de nossas tradições lusas, que gostam de dar vivas à Espanha católica e una vão perder, mais uma vez. Seu lema esfarrapado já foi cunhado baixo hegemonia do liberalismo. A Espanha já não é, há muito tempo, católica, porque é liberal e não pode ser una porque, culturalmente, é uma impossibilidade, uma ilusão que o próprio estado liberal tentou fazer virar realidade, contudo sem êxito.

Quanto à Igreja Católica, não a verdadeira, mas a conciliar, neo-pagã e filo protestante, a do CVII, ora dominada pelos inacianos que coloca os seus bispos para rebolar em eventos como o encontro da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), onde os jovens são incentivados a levar camisetas e faixas com a imagem do assassino e racista Che Guevara, prova inequivoca da hegemonia do projeto liberal-comunista hispânico, enfim, quanto a ela valem as palavras do Papa (São) Pio X.

Fica claro, pois, que a proposta de tornar o ensino do castelano obrigatório no Brasil faz parte de um plano maior de imposição da hegemonia cultural hispânica sobre todo o continente americano via comunismo e com apoio da Igreja Católica (conciliar), seus principais protagonistas, e que leva, à reboque, outros rebentos do liberalismo como fascistas, Carlistas, Miguelistas e Opus Dei. Com efeito, as idéias de hispanidade e comunismo estão de tal forma imbricadas, como provam os últimos acontecimentos por ocasião da vinda de Bergoglio à América do Sul, que não se pode mais dizer, com certeza, quem é o Cavalo de Tróia de quem.

Fica claro, também, que para a salvação do ocidente, precisamos restaurar culturalmente a Europa e, sobretudo, apoiar a auto determinação da Catalunya, como forma de derrotar de vez o projeto espanhol de dominação do mundo lusófono, este, alicerce fundamental do ocidente.

No continente Sul Americano esses grupos e seus líderes querem, na prática, que o Brasil, a maior economia da América Latina, sustente seus projetos de poder para enriquecer às custas do povo brasileiro e ostentar seu falso orgulho intelectual, já agora totalmente desmoralizado. 

O atual governo do Brasil, comunista, tão ou mais entreguista e lesa pátria que os anteriores, está empenhado em alienar nossa soberania aos hispânicos utilizando os recursos provenientes do assalto que promovem às empresas estatais brasileiras.

Mas não os deixaremos vencer, porque o espírito de Aljubarrota estará sempre presente. Não deixaremos que o sangue de nossos antepassados tenha corrido em vão. 

Jamais haverá um Brasil hispânico! 

Jamais seremos governados a partir de Madrid, Buenos Aires, Caracas ou Havana!

Jamais conseguirão roubar o mar territorial e as ilhas portuguêsas!

Jamais falaremos castelano!

Viva a nossa língua, o galego-português!

Viva Portugal! 

Viva o Brasil! 

Viva a lusofonia (galegofonia)! 

Aljubarrota Sempre!

Todos juntos, da Galiza ao Timor!

Em o dia 14 de agôsto de 2015, 630 anos da Batalha de Aljubarrota, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, nessa Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Aviso aos leitores

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Aqueles que quiserem entrar em contacto, podem dirigir suas mensagens para aljubarrotasempre@portugalmail.pt

Bem Hajam.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Polêmica Sobre a Descoberta do Brasil



O RESCALDO DO REGA-BOFE

Os meses que antecederam o dia 22 de abril de 2000 foram de tortura mental para grande parte dos brasileiros. A pretexto de comemorar nossos 500 anos, os meios de comunicação social promoveram um festival de informações erradas sobre nossa história. Raras foram as exceções, programas bem realizados, com esmero na produção e preocupação com o conteúdo. Em um dos programas exibidos, a apresentadora mostrou-se surpresa ao saber que Santa Maria, Pinta e Niña não eram nomes de naus da frota de Cabral, mas sim de Colombo. Vimos mais cineastas, jornalistas e carnavalescos falando de história do Brasil do que historiadores. O pior é que falavam com pretensa autoridade, achando-se descobridores de verdades absolutas. Enfim, o febeapá (como diria o inesquecível Ségio Porto) imperou, culminando com o fiasco da réplica da nau, que não navegou.

Ouvimos bobagens tais como: “a história contada nas escolas está errada, porque é a história dos vencedores”. Ainda que tal fato fosse verdade (mas não é), será que estaria necessariamente errada por isso? Não existe só uma verdade histórica, senão verdades históricas. A dita “dos vencedores” é uma delas. As correntes de pensamento que no Brasil estão do lado oposto ao “dos vencedores” foram hegemônicas em outros países e também produziram a sua história oficial, lá sim, com status de dogma.

Outra informação, vazia, pérola do relativismo, é a de que “a história do Brasil é outra, uma história que não foi contada”. Ora, que se conte, então, essa história, porque história é a escritura dos acontecimentos segundo uma interpretação. História é, essencialmente, narrativa. Mas que se faça sem esquecer o estilo, com rigor científico, a partir das fontes e não de visões oníricas de um passado idealizado ou em cima de erros conceituais permeados pela generalização e pelo anacronismo.

Fomos obrigados a ouvir sandices como a de que foram os espanhóis que descobriram o Brasil. A palavra descobrir deve ser entendida, naquele contexto, como revelar para o mundo, tomar posse e colonizar. O fato de os espanhóis terem chegado, com Pinzón, ao lugar posteriormente chamado de Cabo de Santo Agostinho (em Pernambuco) pode ser verdadeiro, mas não é o marco do nascimento do Brasil. O Brasil é um constructo da colonização portuguêsa. É importante que se diga que o Brasil não faz 500 anos. Comemoramos, queiramos ou não, 500 anos da chegada dos portuguêses a uma terra que viria a ser chamada de Brasil. É a formação da nação brasileira, já em pleno século XIX, que remete a 22/04/1500 como ano zero de nossa história, nossa proto-história.

Caso nossa história fosse outra, caso essas terras tivessem sido colonizadas pelos espanhóis, poderia se dizer que Pinzón foi o descobridor. Mas se isso acontecesse, não seria o Brasil tal como o conhecemos, seria qualquer outra coisa, a começar pelo fato de que haveria, provavelmente, uma fragmentação territorial. Os portuguêses estiveram na Austrália muito antes do Capitão Cook, mas lá não se estabeleceram por ser mais vantajoso, à época, ficar nas Molucas e no Timor. Tente alguém dizer a um australiano que não foram os ingleses os primeiros que lá chegaram e que James Cook não é o principal protagonista dessa história. A reação não será muito amistosa. Aliás, os colonizadores ingleses não foram muito amistosos com as populações autóctones da Austrália. Na ilha da Tasmânia, ao sul do país, pode-se encontrar, num museu, o crânio da última mulher autóctone daquela ilha, caçada e morta pelos ingleses. Lá, sim, houve dizimação da população original.

Os brasileiros ouviram, ao longo dos meses que antecederam as comemorações, que em 1500 viviam aqui cerca de cinco milhões de índios e que, dizimados,  seriam, então, não mais de 300 mil no ano de 2000. Ora, cara pálida, os índios são eles e somos nós também. Os descendentes dos índios estão por aí, andando pelas cidades, por todo o país. Sucede que não são só índios. A marca do Brasil, ao contrário dos EUA e da Austrália, por exemplo, foi a miscigenação e não a segregação odiosa. Era em Hong Kong, e não em Macau, que viam-se placas já em pleno século XX  proibindo a entrada de chineses e cachorros nas praças privativas dos europeus. Foi nos EUA, e não no Brasil,  que em plena década de 1960, havia leis estaduais de segregação contra a população negra.

Milhões de brasileiros, que nos censos aparecem como brancos, têm sangue indígena e negro. Os estudos de DNA já começam a provar isso. SOMOS, E AÍ RESIDE NOSSO MAIS RICO DIFERENCIAL, UMA MISTURA DE BRANCOS, NEGROS E ÍNDIOS.

Na América Portuguêsa houve morte de muitos índios, principalmente por conta de doenças contraídas em contato com os brancos ou por terem se contraposto ao avanço dos lusos. Porém houve, mais que tudo, uma grande miscigenação. Somos descendentes dos “algozes” e de suas “vítimas”. Mas será adequada essa terminologia? Não podemos reduzir nossa história a isso. Abandonemos, pois, esse maniqueísmo dicotomista ao qual nos induzem.

Uma das maneiras mais eficazes de destruir um povo é destruir sua auto estima e fazê-lo ter vergonha de sua própria história. Temos, em nosso passado, como qualquer outro povo, motivos de orgulho e de vergonha. Mas não é denegrindo e, muito menos, distorcendo, que edificaremos nosso porvir.

E, principalmente, não é negando Portugal, construtor dos nossos alicerces e parte inelutável de nossa identidade, que chegaremos a um projeto de país que corresponda às nossas melhores intenções.

Mas, como dizia Nelson Rodrigues, o brasileiro “é um Narciso as avessas, que cospe na própria imagem”.

M. L. P. G. C.

Esse texto, agora revisado e atualizado, foi publicado originalmente no jornal LUMEN - Boletim Cultural do Colégio Rio de Janeiro, na edição de maio-agôsto de 2000.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

domingo, 31 de outubro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Nossa língua, o galego-português

Foi fundada, oficialmente, em 6 de outubtro de 2008, a AGLP (Academia Galega da Língua Portuguêsa).

O evento contou com a presença de importantes acadêmicos como os professores Malaca Casteleiro, de Portugal, Evanildo Bechara, do Brasil e Isaac Estraviz, da Galiza.

A notícia reveste-se de grande importância para todos que entendem que nossa língua é o galego-português e que este, tal como é falado hoje na Galiza, mesmo que acastrapado, eivado de castelanismos, guarda muito mais parecenças com a língua de Camões do que com o castelano.

Vale lembrar que o português é o galego que assumiu o status de língua de um estado nacional chamado Portugal, assim como o castelano é o espanhol e o florentino é o italiano.

Com a emancipação política de Portugal, a Galiza ficou separada e a língua falada dos dois lados do rio evoluiu de forma diferente. Como língua de um estado independente, por sinal o estado nacional com as fronteiras mais antigas da Europa, o galego em Portugal sofreu as influências e acréscimos que todas as línguas podem sofrer em seu desenvolvimento natural. Como língua minoritária, o galego na Galiza sofreu influências por pressão do estado espanhol hegemonizado historicamente por Castela, principalmente depois da vitória do liberalismo uniformizante no século XIX que teve seu ápice autoritário no século XX com a ditadura do Generalíssimo Franco, ele mesmo um galego castelanizado.
Com a ditadura franquista, as línguas minoritárias na Espanha, mormente o galego, o basco e o catalão, foram proibidas e o processo de castelanização acentuou-se. Mesmo depois desse processo, morfologicamente o galego está muito mais próximo do português (galego falado em Portugal) que do castelano.

Com a redemocratização nos anos 70, essas regiões readquiriram suas autonomias e houve um processo de recuperação das línguas locais. Por conta desse processo histórico, o galego chegou ao final do século XX sem uma norma escrita que fosse aceita pelos maiores das letras no país. Somente em 1982, o acordo ILG-RAG (Instituto da Língua Galega e Real Academia Galega) chegou a uma norma castelanizada marcada por um processo político hegemonizado por galegos culturicidas.

Essa norma é contestada por diversos acadêmicos chamados de reintegracionistas que estão agrupados na AGAL (Associaçom Galega da Língua) e, mais recentemente, na AGLP (Academia Galega da Língua Portuguêsa).

Hoje, o sotaque "português" praticamente desapareceu nas gerações mais novas de galegos, mercê da pressão dos meios de comunicação social e do sistema de ensino, mas ainda pode ser percebido em imigrantes pelo mundo afora, inclusive no Brasil, e em aldeias galegas.
Os adeptos do registro do galego acastrapado (castelanizado) defendem que a língua mudou com o tempo e que é impossível a união com o português pois já não são a mesma língua.

Com efeito, o português é o "futuro do pretérito" galego. O galego é da lusofonia (em verdade, galegofonia).

O uso da expressão "galego-português" para designar nossa língua é o mais correto haja vista que, pelas circunstâncias históricas, é dessa forma que podemos referí-la da forma mais precisa. É a forma que melhor expressa seu desenvolvimento.

O argumento de que a oralidade deve ser expressa na língua culta escrita é sofrível porque, se for assim, teremos uma língua a cada esquina em função das diversas formas dialetais que o português em particular e qualquer língua ocidental que tenha expandido-se pelo mundo, ou mesmo não, têm de variantes.

Recentemente o flamengo reincorporou-se ao holandês. A tendência deveria ser a mesma no que tange ao galego em relação ao português. E aí vivemos uma situação aparentemente anacrônica mas fácil de ser explicada. A rigor falamos o galego, mas como dizer para mais de 200 milhões de pessoas que elas falam galego e não português? Ora, o galego difundiu-se pelo mundo na condição de português.
Uma norma mais abrangente, talvez não esse acordo ortográfico mas uma outra, talvez possa incluir nossa língua ainda hoje falada na Finisterra que está, infelizmente, em processo de corrupção cujo ato final será quando seu registo castelanizado passar a ser aceito pelo todo da sociedade galega.

O reencontro com os falantes de nossa língua mãe que estão do outro lado do rio será uma oportunidade única para ambos os lados. Do nosso lado, a de encontrar um tesouro que trará para nosso léxico cerca de 600 a 700 palavras do nosso partimônio comum que só são usadas lá. Para eles, a oportunidade de reinserir-se num universo lingüístico que, apesar de mais de oito séculos de separação, lhes é muito mais afeito que o castelano.

M. L. P. G. C.

Em o dia 30 de setembro de 2010, nesta cidade de São Sebastião.

Observação: o presente texto, também de minha autoria, já foi postado, no todo ou em partes e com pequenas diferenças por revisado que foi agora, em várias comunidades da rede mundial de computadores.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Da Galiza ao Timor

Peço licença para opinar sobre um assunto que é mais afeito aos galegos. Peço desculpas antecipadas caso diga algo impertinente.

Grandes mudanças começaram com a minoria da minoria da minoria.

Talvez a diferença seja que, enquanto noutras situações, que não a da Galiza, o povo tinha dentro de si um sentimento afinado ou potencialmente favorável à vanguarda que viria a hegemonizar (dirigir) o processo de mudança, em Galiza existe um dilema de identidade que impede o povo de aderir aos reintegracionistas lusistas. Será necessário um longo período de conscientização (que talvez não fosse necessário na situação que existia no início do século XX) para que o povo galego tenha um sentimento de pertença definido pelo todo de sua história e não pelo preconceito introjetado imposto nas últimas décadas pelos castelanos e seus aliados, culturicidas, galegos castelanizados.

Reparo que os reintegracionistas lusistas têm uma certa cautela em defender suas teses para não ferir suscetibilidades entre reintegracionistas de outros matizes. E acho que têm razão.

Quisera eu que fosse possível sair com a bandeira de um partido pan-lusófono que propugnasse uma única nação da Galiza ao Timor. Isso é inviável no momento.

Mas é possível uma aproximação cultural, pela qual devemos nos esforçar, para que nos conheçamos mùtuamente, todos da lusofonia, em especial Portugal e Galiza, para, a partir daí, o povo galego conscientizar-se de sua real identidade.

Acredito que a maior resistência que se pode opor a qualquer dominação é a cultural, mais ainda que a política. As ações políticas devem ser uma extensão da resistência cultural. Porque o que se visa destruir não são os partidos galegos por mais nacionalistas e radicais que sejam e sim a cultura galega.

Talvez o maior esforço dos castelanos, no seu ímpeto de tentativa de aculturação das outras nações com as quais convivem, tenha sido em relação à Galiza. Por um motivo muito simples: Portugal exerce uma atração natural em relação à Galiza. O mesmo não acontece no caso de Euskadi e Catalunya. Enquanto a maior parte da Portugaliza está fora da Espanha, nos outros dois casos a maior parte dessas nações encontra-se dentro do domínio espanhol. São, para os integristas castelanos, outras Espanhas que têm pedaços menores em França mas que não têm independência. E entendem que esses pedaços em França também deviam juntar-se a essa Grande Espanha.

No caso de Portugaliza o perigo é muito maior para os castelanos. Uma parte dela está independente há mais de oito séculos afirmando, peremptòriamente, que NÃO é uma das "Espanhas".

Mas o que fazer se grande parte dos galegos (maioria?) sentem-se espanhóis? Mudar esse pensamento com conscientização. Como? Difícil dizer. Eis o grande desafio. Começa, certamente, com o estreitamento dos laços culturais com a lusofonia, sobretudo com Portugal. O problema é que Portugal e suas instituições não estão muito interessados. O Brasil, infelizmente, muito menos. Vale lembrar que em pleno regime de terror instalado pelos indonésios contra o povo timorense o Brasil estava a fazer grandes acordos comerciais com a Indonésia, sem o menor escrúpulo.

Como se pode ver, o panorama é árido. Mas a esperança é grande.

M. L. P. G. C.

(Esse texto foi postado, pela primeira vez, há cerca de sete anos no Portal da Agal. Sofreu pequena revisão em relação à primeira versão).

Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em o 30 de agôsto de 2010.